Por Lucio Ishikawa e Victor Hugo
Entrevista com o ex Secretário Municipal de Cultura de Porto seguro, o Sr. Mario Jorge Jucksch de Paula (administrador formado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, assessor comercial da Siemens S/A, ex-consultor financeiro da Prefeitura de Cuiabá, foi professor das Faculdades do Descobrimento (FACDESCO) e professor de matemática do ensino médio do Estado da Bahia). Em entrevista realizada no dia 26 de abril de 2010, conversou conosco sobre a política e gestão administrativa do município.
Tribuna - Em 29 de junho de 2008, foi publicada uma nota de repúdio contra o Sr. José Ubaldino Pinto Jr. (Ex Prefeito do Muncipio de Porto Seguro), por conduta antiética, pela intromissão nas decisões do Partido Popular Socialista (PPS) de Porto Seguro e pela invasão da sede da Ordem dos Advogados do Brasil. (OAB) na qual estava sendo realizada a convenção municipal do partido.
Tribuna - Em que medida o senhor poderia comentar este fato?
Mario Jorge - Primeiro qualificar os agentes políticos, eu sou Mario Jorge Jucksch de Paula, sou membro do diretório nacional do PPS, fui militante do partido comunista brasileiro desde 1967, quando entrei na época da faculdade, e até 1987 no oitavo congresso, fui membro do comitê central do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Essa condição coloca-me em uma situação de basicamente refém da minha cultura da resistência da ditadura militar, a todos os processos de repressão a sociedade civil organizada até 1985 quando veio a derrocada da ditadura quando veio às diretas com a abertura política – eu sou fruto desse universo. O que é o PPS? O PPS é o herdeiro político do Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi uma reformulação da parte visual do partido comunista, uma reformulação do marketing que nós tínhamos em função das mudanças da sociedade como um todo, mudanças na União soviética, mudanças no Partido Comunista Espanhol, mudanças no PCI Italiano, mudanças de vários partidos comunistas e nós nos modernizamos a nossa imagem e passamos a nos chamar PPS.
Esses dias, Tom Zé, em uma entrevista ao Programa do Jô Soares, disse que a diferença entre ele e o Jô Soares, apesar de terem idades semelhantes, era que Jô era nascido no Rio de Janeiro e criado na Suíça e ele era nascido no interior da Bahia; a diferença era que ele (Tom) nasceu no interior da Bahia, na idade média, a Bahia para nós hoje é a Idade media, muito aquém dos padrões socialmente aceitos e viventes do mundo, hoje a Bahia é 23 ou 24 do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) Brasil do qual o Brasil é 61 IDH Mundial, quando nós nos confrontamos com as forças políticas de Porto Seguro, nós víamos a possibilidade da transformação social de Porto Seguro num salto de qualidade. O PPS como agente Político e eu como membro do PPS, pontificamos a não volta da Família Pinto, denunciada por fraudes, nacionalmente conhecida como estelionatário do poder político, com mais de 400 processos correntes. O nosso foco primeiro foi de tirar da família Pinto a possibilidade, o acesso ao poder municipal; o PPS por um acidente, era um Partido que tinha agregado as forças da família Pinto e colocado mais de 20 militantes pagos, regiamente durante dois (2) anos para a formação de um bloco de vereadores os quais viessem a trazer votos para que o Ubaldino fosse eleito. Como eu assumi a presidência do PPS como convidado e depois desconvidado, no meu papel de comunista resolvi não permitir que a família Pinto mantivesse a ascendência que tinha sobre o PPS local, levei durante oito (8) meses o processo político em bom termos até a véspera da convenção quando eu implodi a possibilidade da família Pinto se fazer presente; foi quando mudamos o marketing da convenção, mudamos uma comissão provisória, e impedimos que a família Pinto voltasse ao poder – nesse processo nos coligamos com as forças que se antagonizavam a Família Pinto que foi Janio Natal, com séquito de forças políticas e o Abade e negociamos também um espaço dentro do Governo.
Tribuna - O apoio ao então candidato Gilberto Abade, foi consolidado após este episódio?
Mario Jorge - Não, antes da convenção nós já havíamos negociado forças políticas tanto com o PT, PSDB, PSB, PRTB, tentando criar uma frente que fosse capaz de impedir (a volta da família Pinto). Nós já tínhamos coligado com essa frente e tínhamos claro que a família Pinto nós não iríamos apoiar. A partir disso, negociamos um espaço no Governo; nós tínhamos negociado antes, Secretaria de Educação, Secretaria de Cultura, Secretaria de Esporte e Lazer, mas negociamos que deixaríamos a Educação para atrair o PT para a base do Governo, e negociaríamos o esporte caso fosse necessário. Nessa negociação deixamos a Educação para atrair o PC do B em troca da gestão da Cidade Histórica, este foi o acordo feito, então a nossa ida para a Cultura não foi um convite do Governo, foi uma ação negociada, foi parte de um processo político que levou as forças que apoiaram Abade a terem sua fatia de Governo.
Tribuna - Anteriormente a Cultura era uma diretoria dentro da Educação, atualmente ela é uma Secretaria, houve um avanço significativo, no setor Cultura, quais foram as suas atribuições, o seu trabalho em relação ao Município?
Mario Jorge - A Secretaria deixou de ser uma Diretoria para ser uma Secretaria de fato, isso foi negociado em campanha, porém, a cabeça do gestor e a cabeça do individuo a quem foi delegado (Edésio Dantas), para eles isso não importava, ele tinha um projeto do poder pelo poder, então a criação da Sec. de Cultura não se efetivou, ela passou a existir no organograma porém, a estruturação dela não se deu por completo pois, nós tínhamos por atribuições os marcos jurídicos, que é a parte mais importante de uma secretaria, que é o conjunto de leis, conjunto de instituições, capaz de sobreviver às mudanças de gestores, o ingresso do município nos sistemas estadual e federal de cultura, a atração dos agentes culturais para dentro da secretaria, a implantação da lei de incentivo a cultura, o resgate das instituições culturais que havia sido relegado a um segundo plano, a implantação do Parque Histórico Municipal do Descobrimento (PHMD), a criação dos museus e, principalmente, o fortalecimento da cultura a partir da criação do conselho municipal de cultura – esse conselho que viria a ser um suporte do governo, fosse na fiscalização, nas ações da definição da qualificação dos agentes culturais nos editais de cultura, fosse na proposição de uma política cultural de longo prazo, embora tivéssemos trabalhado nesse sentido, nessa estruturação o governo Abade, não se sensibilizou, não deu mérito as ações e resolveu pontuar favorecendo amigos, vide caso do conservatório de música, que na verdade não existe, que está lá para favorecer uma pessoa amiga de Abade, que tem minado os esforços da cultura por sinal, e que desqualifica a cultura no Município.
Tribuna - Mas, há pouco mais de um ano o Sr. solicitou a exoneração do cargo. Quais foram os motivos que o levou a tal pedido?
Mario Jorge - Nós não tivemos um fato particular, temos um conjunto de fatos, apesar de nós termos levado durante um ano e dois meses, tentando pacificamente com as dificuldades do governo, nós percebemos que o grande problema da gestão é o próprio gestor; o desmonte da estrutura administrativa do município a falta de capacidade administrativa, a falta de aparelhamento de gestão da prefeitura, leva o gestor a ser um feitor e, enquanto feitor ele não visa as políticas públicas, ele visa as sua ações e dentro disso ele criou um elenco de agentes que são estranhos a proposta da coligação política. Ele passou a se assegurar em vereadores venais, em vereadores fisiológicos, em pastores cujo seu mote é apenas o espaço financeiro em detrimento dos acordos firmados em campanha, isso nos levou a perceber que a nossa participação dentro governo era desgastante para nós e útil para o prefeito. Nós conversamos com as forças políticas, que nós entendemos mais alternativas, fizemos uma reflexão, trouxemos o conjunto e o coletivo do partido, discutimos, tentamos ainda argumentar com o prefeito, e em conjunto com as instâncias do partido, federal, estadual e principalmente municipal nós resolvemos abortar nossa estada no governo.
Tribuna - Então o senhor Abade como prefeito e sua equipe, no setor administrativo, demonstra não ter essa capacidade de administrar a cidade com ética e com responsabilidade?
Mario Jorge - Eu diria mais, Abade é uma grande fraude, a maior fraude que Porto Seguro já teve, nós o tivemos como aliado, como pertencentes a um universo de forças, mas ele na verdade é um indivíduo sem qualificações para gerir o município, ele é um indivíduo de índole duvidosa, e diria mais, poderíamos pensar que ele pertence a um quadro que deveria ser levado à luz da psiquiatria.
Tribuna - Como Administrador, o senhor diria que Porto Seguro tem saída para a atual crise administrativa?
Mario Jorge - Vejo, eu vejo como saída uma re-fundação do município, essa re-fundação passaria por uma reforma administrativa, passaria por um grande acordo social que envolveria o legislativo, o judiciário, a sociedade civil organizada, um grande debate e firmamos um pacto federativo dentro do município para reformular Porto Seguro, sem a reforma administrativa, sem a reforma política em si, vai acabar sendo o fator que irá demolir as ações municipais dessa re-fundação municipal; eu vejo, o desarme dos espíritos, principalmente retirar do prefeito os poderes que ele tem, destituí-lo da posição de prefeito com os mando que ele tem e fazermos uma grande pacto, se isso não acontecer, eu não vejo alternativa nenhuma.
Tribuna - O Sr. comentou esta semana que talvez voltaria a Facdesco como um dos professores, isso seria possível?
Mario Jorge - Eu vejo o meio acadêmico, seja a Facdesco, seja outra instituição, como uma das poucas portas para a criação do conhecimento elaborado, o conhecimento científico; como professor, como ente da formação ideológica, eu não descarto nenhuma possibilidade, tive um convite informal, um convite espontâneo, algumas vezes e, se houver espaço na agenda, possibilidade de voltar ao meio de ensino, voltaria com prazer.